terça-feira, 5 de abril de 2011

Ovos primeiro

Chamou nossa atenção que a famosa questão 'Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?' segue sem resposta, apesar dos recentes avanços em biologia comparativa que fornecem a metodologia para resolver esse problema. Uma abordagem usada na biologia comparativa moderna envolve examinar a distribuição do caractere em grupos de nível taxonômico similar a fim de determinar, entre outras coisas, se aquele caractere surgiu de novo em um grupo particular ou se já estava presente nos ancestrais daquele grupo (veja Ref. 1 para uma discussão ampla sobre o método comparativo e suas aplicações). Este método, portanto, é idealmente apropriado para investigar se o ovo ou a galinha veio primeiro.

Fig. 1. Filogenia resumida (baseada na classificação de Romer – Ref. 2) de répteis e aves mostrando a posição filogenética das galinhas e a presença de ovos.

Para se empregar o método comparativo, uma filogenia confiável dos grupos de interesse é necessária. Tem sido aceito pelo menos desde os anos 1960 que as aves e outros répteis formam um grupo monofilético, com aves e crocodilianos representando o clado mais recentemente derivado daquele grupo (veja Ref. 2). Oviparidade é o mais comum e amplamente distribuído modo reprodutivo encontrado em répteis e aves, e portanto deve ser considerado o estado ancestral do caractere para o grupo inteiro (veja Fig. 1). Ovos, portanto, claramente vieram antes das galinhas.

Jacqui A. Shykoff
Laboratoire d’Evolution et Systématique
CNRS URA 2154, Université de Paris-Sud,
Bât. 362, F-91405 Orsay Cedex, France
(shykoff@psisun.u-psud.fr)

Alex Widmer
Geobotanisches Institut der ETH-Zürich,
Zollikerstr. 107, 8008 Zürich, Switzerland

References
1 Harvey, P.H. and Pagel, M.D. (1991) The Comparative Method in Evolutionary Biology, Oxford University Press
2 Romer, A.S. (1966) Vertebrate Paleontology, University of Chicago Press

(Tradução de uma carta realmente enviada para um periódico científico: Shykoff JA, Widmer A (1998) Eggs first. Trends in Ecology and Evolution, 13(4): 158.)