segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Astrologia

Logo abaixo, posto um texto que eu resumi de outros textos no ano passado , antecipando o frenesi que tomou conta de imprensa e da comunidade astrológica no mês passado (só atualizei alguns dados). A manchete da notícia sensacionalista afirmava que havia um novo signo no zodíaco: Serpentário. Notícia? Só para os preguiçosos seguidores da astrologia, que não se dão o trabalho de se informar sobre seu passatempo inútil: desde 1930, quando a International Astronomical Union redefiniu as fronteiras das constelações, já se podia afirmar que o zodíaco consistia de treze signos. Isso sem considerar que Ptolomeu, na sua obra Almagest do século II, já havia identificado a constelação de Serpentário como pertencente ao zodíaco. Até mesmo um astrólogo já defendia um zodíaco de treze signos desde 1995: Walter Berg no livro 'The 13 Signs of the Zodiac'.



A astrologia é um tipo de adivinhação desenvolvido por diferente culturas no qual a posição relativa dos corpos celestes supostamente fornecem informações sobre a personalidade de uma pessoa e sobre os afazeres humanos em geral. Por exemplo, a astrologia de horóscopo afirma que a posição relativa dos corpos celestes na hora do nascimento de uma pessoa determina traços da sua personalidade, basicamente reduzindo toda a gama de variação psicológica humana a doze estereótipos pré-fabricados. Enfim, a astrologia foi desenvolvida antes de obtermos uma série de conhecimentos científicos sobre o funcionamento do Universo, e existem inúmeras e convincentes razões para acreditar que os preceitos da astrologia não tem o menor fundamento na realidade. Aqui estão só algumas delas...

Constelações não são uma região do espaço. Quando um astrólogo afirma que "Urano está entrando em Aquário", o que isso quer dizer de fato? Aquário é um conjunto de estrelas, cada uma a uma distância completamente diferente da Terra, e que não têm nenhuma conexão além de constituírem um padrão (bem impreciso, tanto que diferentes culturas estabeleceram diferentes constelações) quando vistas a partir de um certo lugar do Universo: o terceiro planeta em órbita de uma estrela anã amarela na periferia de uma galáxia em nada especial do ponto de vista cósmico. Uma constelação não é uma região do espaço, não é algo do qual se possa dizer que Urano "está entrando".

A forma de uma constelação é efêmera. Ao contrário do que nossos antepassados acreditavam, as estrelas não estão em posições fixas na abóbada celeste. Todas as estrelas, na realidade, estão se movendo em relação ao Sol, e muitas a uma velocidade de muitos quilômetros por segundo. Contudo, como elas estão muitíssimo longes daqui, são necessários milhares de anos para que qualquer mudança significativa seja notada nos padrões estelares. Portanto, para o período de uma vida humana as constelações até parecem fixas, mas ao longo dos anos elas se alteram drasticamente.

As constelações do zodíaco se alteram devido à precessão axial da Terra. Uma alteração astronômica muito mais rápida que a mudança na forma das constelações é a precessão axial da Terra, isto é: a variação gradual da orientação do eixo de rotação da Terra, semelhante a um peão de brinquedo oscilante (ver figura abaixo). Uma precessão completa leva aproximadamente 26 mil anos. E o que isso tem a ver com o zodíaco? Em astronomia, o zodíaco é o anel de constelações sobre os quais o Sol 'percorre' o seu caminho aparente ao longo de cada ano. A precessão axial causa uma variação no zodíaco, ou seja, o Sol varia o seu 'caminho' ao longo do tempo. Por exemplo, no ano de 2010, o Sol estará 'sobre' Sagitário de 18 de dezembro a 21 de janeiro. Na realidade, o Sol atualmente 'passa' sobre treze, e não doze constelações: caso a astrologia fosse atualizada e não baseada num céu de 2 mil anos atrás, os astrólogos deveriam adicionar o signo de Serpentário (Ophiuchus, em latim).



O Sol fica períodos de tempo diferentes 'dentro' de cada constelação. As constelações do zodíaco não ocupam a mesma área da esfera celeste. A divisão dos signos do zodíaco em 30 dias para cada signo não tem justificativa além da comodidade ou da ignorância. Caso você não tenha prestado atenção, o período no qual o Sol estará 'sobre' Sagitário em 2010 é de 33 dias. Por exemplo, atualmente a 'duração dos signos' varia de 44 dias (Virgem, 17 de setembro a 31 de outubro) até 18 dias (Serpentário, sim, o 13° signo ignorado pelos astrólogos, de 30 de novembro a 18 de dezembro).

Não existe interação física conhecida além da gravidade que atue de modo significativo a grandes distâncias sobre seres humanos. Quatro interações físicas fundamentais regem o nosso Universo: a força eletromagnética, a força nuclear forte, a força nuclear fraca e a força gravitacional. A força gravitacional é a mais importante interação entre corpos celestes. Primeiro, porque ela tem um alcance infinito, assim como a força eletromagnética. Segundo, porque a força eletromagnética não é relevante entre corpos celestes grandes, simplesmente porque esses corpos contêm números iguais de prótons e elétrons e portanto têm uma carga elétrica total igual a zero. Contudo, a força gravitacional é de longe a mais fraca de todas as interações fundamentais: a força gravitacional de um médico na sala de parto sobre um bebê é muitas vezes maior do que a de todas as estrelas juntas de uma constelação. E o que isso tem a ver com astrologia? Tem a ver porque o fundamento da astrologia é a influência das estrelas e planetas sobre o nosso destino, e a gravidade é a única interação física conhecida pela qual esses astros poderiam influenciar o nosso corpo. Contudo, a força gravitacional que esses astros exercem é negligenciável quando comparada à força gravitacional que a Terra ou a pessoa ao seu lado exercem sobre você. E eu acredito mais na física (que é ciência) do que na astrologia (que é um lixo).

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