quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Steven Weinberg


O Steven Weinberg é um físico de partículas que já ganhou Prêmio Nobel e tudo. Ele além de escrever incrivelmente bem sobre física, também dá suas opiniões sobre assuntos diversos: guerra nuclear, ciência, sionismo (ele é judeu) e ateísmo (judeu só de etnia, como é agora possível deduzir). Já li o 'Dreams of a Final Theory' e também a sua primeira coletânea de ensaios, 'Facing Up'. Agora estou lendo a sua segunda coletânea de ensaios, 'Lake Views', e estou com o 'First Three Minutes' engatilhado. Segue abaixo a minha tradução de um pequeno artigo dele sobre o estado de Israel, aquele que todos gostam de falar mal.
 
Israel e os liberais

O maior milagre do nosso tempo é o renascimento da nação judaica em seu antigo lar. E com ele, a transformação de uma paisagem inóspita na adorável terra de Israel, com suas ruas arborizadas, cafés, universidades, povo otimista, suas mulheres libertadas, sua democracia liberal e seu Estado de Direito. O milagre contínuo é a sobrevivência desse restante de um povo amante da vida em uma faixa de terra, apesar dos repetidos ataques de exércitos árabes hostis. Edward Gibbon escreveu sobre a condição dos judeus europeus na Idade Média que, "eles podem ser oprimidos sem perigo, considerando que eles perderam o uso, e até a lembrança de armas." Milagrosamente, no século XX os judeus aprenderam novamente a se defenderem.

Mas apesar de Israel ter sobrevivido, ela enfrenta hostilidade contínua, e não apenas de irredentistas árabes, mas de políticos e empresários que negociam favores com países muçulmanos ricos em petróleo, e de ordinários e obsoletos anti-semitas. O desenvolvimento mais terrível do nosso tempo, com relação a Israel, é a conversão mundial de muitos dos meus companheiros intelectuais liberais – acadêmicos, artistas, escritores, líderes trabalhistas, clero "iluminado" – ao ódio irracional de Israel, a única democracia liberal no Oriente Médio e o único país da região no qual qualquer um de nós suportaria viver. Eles sentam em fóruns mundiais, estranhamente denunciando Israel como o pior violador dos direitos humanos, a maior ameaça à paz mundial. Eles exigem que Israel suspenda os pontos de controle e muros e suas outras tentativas de salvar vidas judias. Os participantes mais vergonhosos em tudo isso são judeus e "liberais" israelenses, correndo para mostrar ao mundo que eles não são maus judeus, mas bons, mais anti-Israel que vocês.

O motivo causador declarado para essa hostilidade é a suposta "ocupação" da terra palestina. Freqüentemente tomando a forma de uma exigência que Israel retorne às suas fronteiras de 1967. Israel já fez um retiro completo da Faixa de Gaza e passou a maioria da Cisjordânia para a Organização para a Liberação da Palestina (OLP). Realmente alguém pode acreditar que retirar todos judeus de uma pequena área restante que eles habitam e cessar as patrulhas militares israelenses na Cisjordânia irá trazer paz? O Hamas, o Hezbollah e seus patronos em países muçulmanos, como o Irã, deixaram claro que eles não ficarão satisfeitos com nada além da aniquilação de Israel. Os supostos "moderados" na OLP e em alguns países muçulmanos agora aceitam a existência de Israel, mas qual linha eles tomariam caso Israel retornasse às suas estrategicamente vulneráveis fronteiras de 1967? Lembre-se: a OLP foi fundada em 1964, quando nenhuma parte de Gaza ou da Cisjordânia estava em mãos israelenses, e "liberação" só poderia significar a aniquilação de Israel.

A exigência para o retiro total israelense da Cisjordânia não é apenas irrealista – ela é injusta. Países que são atacados, e derrotam seus agressores, não são normalmente culpados se tomam um território do agressor que irá ajudá-lo a se proteger de ataques subseqüentes. Isso é o que a União Soviética fez depois da Segunda Guerra Mundial, quando anexou a Prússia Oriental, e nem mesmo os alemães atualmente a condenam por isso. (É claro, a Rússia não teve problemas em governar os alemães na terra da qual se apoderou, pois os deportou todos.) Segundo esses padrões, Israel merece manter qualquer parte da Cisjordânia que precisar para sua segurança.

E então temos os "liberais" que renegam a legitimidade da própria Israel, e perguntam por que não deveria haver um estado multi-étnico em toda a Palestina sujeito à maioria, que por acaso vem a ser de árabes? Eles ignoram evidências históricas de que os judeus não podem viver livremente em países dominados por árabes. Os judeus que viviam entre árabes foram submetidos a repetidos massacres árabes, como em Hebron em 1929, e onde os judeus foram tolerados em países árabes, eles nunca passaram de cidadãos de segunda classe, um status ditado pelo Alcorão. Os judeus atualmente são proibidos de viver na Arábia Saudita, e tiveram que fugir de outros países árabes. Mesmo que o direito internacional tenha estabelecido toda a Palestina como o lar nacional dos judeus, os britânicos passaram a maioria dela (a parte hoje conhecida como Jordânia) aos hachemitas, aliados da Inglaterra, que não tinham nenhuma ligação com a Jordânia. Mas os judeus têm ligações reais com a Palestina, seu antigo lar, onde milhares de judeus sempre viveram desde os tempos do Império Romano. Mesmo após a entrega da Jordânia, as Nações Unidas votaram pela partição do território restante, deixando apenas metade dele para os judeus. Ainda assim, os judeus aceitaram essa meia faixa de terra e criaram um lindo país.

Vamos, liberais e intelectuais, judeus e gentios, retornar aos verdadeiros valores liberais. Vamos finalmente reconhecer que o ódio ao estado judeu é o ódio aos judeus. Vamos, tanto judeus quanto não-judeus, fazermos o que for possível para proteger os sobreviventes judeus do ódio irracional em seu próprio país.

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