terça-feira, 25 de maio de 2010

Clipe do Dia nº 85



Na madrugada do dia 2 para o dia 3 de março de 1991, Rodney King voltava de uma noitada na casa de um de seus amigos, onde assistiu uma partida de basquete, fumou um baseado, e bebeu umas e outras com seus parceiros. Dirigia com dois amigos pela freeway, ainda alto, quando para seu terror percebe as duas sirenes vermelhas pelo espelho retrovisor. Fudeu. King havia roubado uma loja três anos antes, e o juiz havia lhe dado dois anos no inferno. Estava ainda em condicional, e se fosse pego dirigindo bêbado e chapado estava fudido e mal pago.
King, com aquela tenacidade e inteligência que só a ebriedade dá, resolve meter o pé no acelerador. Seus amigos protestam: covardes. Esses porcos não vão fuder comigo de novo. Voou não lembra por quantos segundos, minutos, horas pela freeway, mas as sirenes seguiam figurando no seu retrovisor. Os dois amigos, desesperados, começavam a se questionar se valia a pena convencer King a parar ou se o melhor era tentar escapar mesmo. O carro pega uma saída, e dirigindo por ruas e avenidas de Los Angeles, King via o inferno cada vez mais perto. Seus amigos não sabiam o que era ficar numa cadeia, mas a fuga virara missão quase impossível: o automóvel de King fora cercado por carros-patrulha.
Vozes por alto-falantes ordenam a saída do veículo e que ao saírem eles se deitassem no chão, de bruços. Seus amigos logo saem e obedecem os policias. King não. Nessa hora já estava confuso, e não sabia se enfrentava os homens ou pedia arrego, tudo o que queria era ficar o menor tempo possível na cadeia. Saiu do carro, e balbuciou algumas palavras ininteligíveis, que de mais a mais os policiais não tinham nenhum interesse: só queriam que ele os obedecesse e parasse de incomodar.
King vê uma policial mulher sacar a arma e apontar em sua direção, mandando mais uma vez que se deitasse no chão, como seus amigos já haviam feito e como os policiais já o haviam ordenado antes. King se deita no chão, mas oferece resistência quando percebe vários policiais se aproximando. Os homens de azul se afastam e aplicam um choque elétrico nele com um Taser. King resiste, e duas descargas são necessárias para derrubá-lo.
Tonto e perdido, King sente a realidade voltar de modo contundente através de uma intensa dor em suas pernas. Um cacetete o golpeava seguidamente. Porco filho da puta. Em meio às porradas, King ainda consegue perceber que outro polícia se juntou ao primeiro, também com um cacetete. Sentia golpes por todos os lados, sentiu sua cara inchar, sentiu pisões e chutes, sentiu uma dor aguda no tornozelo. Depois de precisamente cinquenta e seis golpes de cacetete e seis chutes, King era algemado e encaminhado para um hospital.
Obviamente, não foram os policiais, nem seus amigos já deitados de bruço, e muito menos King que contaram o número de golpes: foi o país inteiro. George Holliday, morador de um condomínio com vista para o local do incidente, filmou parte da ação de dentro do seu apartamento, a uma distância na qual os policiais não perceberam a sua câmera delatora. A imagem é mostrada no dia seguinte inúmeras vezes na televisão ao redor do mundo.

Um pouco mais de um ano depois, mais especificamente no dia 29 de abril de 1992, um júri composto por dez brancos, um latino e um oriental inocentava os quatro policiais acusados de assalto, mas não entrava em consenso sobre a acusação de uso excessivo da força com relação ao policial que mais golpes desferira contra King. O prefeito da cidade viria a declarar depois: 'o veredito do júri não irá nos cegar sobre o que vimos naquele videotape. Os homens que bateram em Rodney King não merecem vestir o uniforme da L.A.P.D.'

Meia hora depois do veredito, inicia-se uma desordem na cidade em protesto pelo resultado do julgamento. Durante quatro dias, o caos toma conta de Los Angeles, resultando na  morte de 53 pessoas, milhares de feridos, saques, incêndios, conflitos entre a população de um lado e a polícia de Los Angeles e a Guarda Nacional de outro. Somente com a chegada 4 mil soldados do Exército e Mariners a ordem é reestabelecida.

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