domingo, 2 de maio de 2010

A cocheira dos sete potros



Dos motivos possíveis para a deflagração de uma guerra, só o charque merece consideração. Quando o General assegurou-nos, entre baforadas, que estávamos ali apenas e somente pelo charque, tudo ficou cristalino. Territórios, riquezas, belas fêmeas, todo o resto não passa de tontaria quando medido contra o valor transcendente da carne salgada com nosso suor. Somos vegetarianos, andamos sobre quatro patas, mas não somos ingênuos. Até um burrico, criatura morosa e renitente, reconheceria que com charque não se brinca. Só os imperiais não entendem, os simplórios. Se pudéssemos demonstrar que… A chegada do peão, voltando do barranco, interrompe minhas ruminâncias. Sinto o peso de seus fundilhos em meu dorso. Indelével em minha mente a lembrança do charque. Que venha a guerra, que desçam os baianos, que vingue a carne. De cá para diante seguiremos juntos. Os cavalos, os rebeldes, o charque, eternamente a singrar a planura do pampa - a planura, a planura.

Daniel Galera & Daniel Pellizzari, A cocheira dos sete potros


Do site do Galera: http://www.ranchocarne.org/

Nenhum comentário: