segunda-feira, 10 de maio de 2010

Holocausto nuclear



Estamos em 1962, e você é o presidente dos Estados Unidos. Acabou de ser informado de que a União Soviética lançou uma bomba atômica sobre Nova York. Vocês sabe que eles não voltarão a atacar. À sua frente está o telefone para o Pentágono, o proverbial botão, com o qual você pode retaliar bombardeando Moscou.
Você está prestes a apertar o botão. A política do país é retaliar na mesma moeda um ataque nuclear. Essa política foi concebida para intimidar os atacantes; se você não a seguir, a intimidação terá sido uma farsa.
Por outro lado, você reflete, o mal já está feito. Matar milhões de russos não trará milhões de americanos mortos de volta à vida. A bomba acrescentará precipitação radioativa na atmosfera, prejudicando seus próprios compatriotas. E você entrará para a história como um dos piores assassinos de multidões de todos os tempos. A retaliação agora seria por puro rancor.
Mas foi precisamente essa linha de raciocínio que encorajou os soviéticos a atacar. Eles sabiam que, uma vez lançada a bomba, você nada teria a ganhar e teria muito a perder se retaliasse. Julgaram que você estava blefando e pagaram para ver. Portanto, é melhor você retaliar para mostrar a eles que não estava blefando.
Mas, pensando bem, de que serve provar agora que você não estava blefando antes? O presente não pode afetar o passado. Permanece o fato de que, se você apertar o botão, extinguirá milhões de vida sem razão.
Mas espere - os soviéticos sabem que você pensaria que não tem sentido provar que você não estava blefando. É por isso que eles pagaram pra ver. O próprio fato de você estar pensando dessa maneira acarretou a catástrofe - por isso, você não deve pensar dessa maneira.
Mas não pensar dessa maneira agora é tarde demais...
Você amaldiçoa a liberdade. Seu apuro está em ter a opção de retaliar e, como retaliar não é do seu interesse, você pode decidir não fazê-lo, exatamente como previram os soviéticos. Que bom seria se você não tivesse escolha! Se os seus mísseis houvessem sido conectados a um detector confiável de projétil nuclear e disparassem automaticamente! Os soviéticos não teriam ousado atacar, pois saberiam que a retaliação era certa.
Esse encadeamento de raciocínio foi levado à sua conclusão lógica na novela e filme Dr. Strangelove [Dr. Fantástico]. (...)

Trecho do excelente 'Como a Mente Funciona', de Steven Pinker, sobre o enredo do espetacular filme 'Dr. Fantástico', do Stanley Kubrick.

2 comentários:

Pree disse...

Tu vai ver um holocausto de verdade....
trimmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

Vinicius disse...

No Holocausto ninguém sobrevive, só as baratas...