quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Do egoísmo humano



Suponhamos que o grande império da China, com toda sua miríade de habitantes, fosse repentinamente engolido por um terremoto, e consideremos como um homem das humanidades na Europa, que não tinha nenhum tipo de conexão com aquela parte do mundo, seria afetado quando tomasse conhecimento desta terrível calamidade. Ele iria, eu imagino, em primeiro lugar, expressar enfaticamente sua tristeza pelo infortúnio daquelas infelizes pessoas, ele faria muitas reflexões melancólicas sobre a precariedade da vida humana, e a futilidade de todos os afazeres do homem, que podem ser aniquilados em um momento. Ele também iria, talvez, se fosse dado a especulações, seguir diversas linhas de raciocínios relativas aos efeitos que este desastre poderia produzir no comércio da Europa, e no comércio e negócio do mundo em geral. E quando toda essa boa filosofia estivesse terminada, quando todos esses sentimentos humanistas fossem justamente expressos, ele iria voltar-se aos seus negócios ou aos seus prazeres com a mesma calma e tranqüilidade, como se tal acidente nunca tivesse ocorrido. O mais frívolo desastre que pudesse lhe acometer iria causar-lhe um distúrbio muito mais real. Se ele estivesse para perder um pedaço do seu mindinho amanhã, ele não dormiria à noite; mas, contanto que ele nunca os veja, ele iria roncar com a mais profunda segurança sobre a ruína de milhares de milhões de seus irmãos, e a destruição de uma imensa multidão lhe parece simplesmente um objeto menos interessante do que o seu próprio irrisório infortúnio.

- Adam Smith, Teoria dos Sentimentos Morais

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