terça-feira, 8 de junho de 2010

Sampa

 

Traduttore traitore. Tradução é um processo espinhoso, porque as palavras têm conotações e nuances que às vezes não são transpostas com exatidão de um idioma para outro. Uma expressão que eu sempre me lembro é wishful thinking, que significa acreditar em algo não de acordo com motivos racionais, mas sim de acordo com o que se deseja que aconteça. É como quando o Homer Simpson volta pra faculdade, e os colegas nerds dele perguntam o que ele vai fazer no dia da prova final, e ele responde: "Vou me esconder debaixo de umas cobertas e torcer para que tudo dê certo." Ou quando eu penso que a Morena vai voltar hoje pra Porto Alegre. OK, toda essa digressão para dizer que São Paulo me deixou com mixed feelings, que poderia formalmente ser traduzido como ambivalência.

A cidade é incrível, um mosaico dinâmico de concreto armado habitado por uma quase infinidade de pessoas. A cidade exala dinheiro, com muitas opções para ganhá-lo e gastá-lo (Da força da grana que ergue e destrói coisas belas, cantou Caetano). Os guias de programação para o final de semana do Estadão e da Folha são um disbunde, até mesmo para padrões porto-alegrenses, que pelo tamanho da cidade tem uma boa programação gastro-artístico-cultural. Me chamou atenção a educação das pessoas e o bom atendimento em museus, restaurantes e lojas, além da variabilidade humana - pessoas de todos os tipos são encontradas. Tudo bem, minha amostra pode ser enviesada, afinal fiquei circulando mais por bairros nobres, e exatamente nos dias antes, durante e depois da Parada Gay. Enfim...

Os paulistas, como bons brasileiros, adoram desdenhar sua própria cidade: dizem que lá não se tem qualidade de vida, o que tem o seu fundo de verdade: movimentar-se pela cidade é um transtorno, e chega um momento em que não se agüenta mais ver gente e enfrentar filas. Mas eu, no cômputo geral, apesar de todos pesares, posso dizer que gosto de São Paulo: não acalento sonhos utópicos de que um dia quero morar no mato. Gosto do urbano, e nada mais urbano no Brasil que São Paulo.

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