terça-feira, 22 de junho de 2010

San Francisco


Lembranças estranhas nessa noite nervosa em Las Vegas. Cinco anos depois? Seis? Parece uma vida inteira, ou no mínimo uma Grande Era – o tipo de auge que nunca mais volta. San Francisco na metade dos anos 60 era um lugar muito especial para estar, em um tempo muito especial para viver. Talvez tenha significado algo. Talvez não, no fim das contas... mas nenhuma explicação, nenhuma combinação de palavras, músicas ou lembranças é comparável à sensação de saber que você esteve lá, que viveu naquela parte do mundo durante aquele momento. Seja lá o que isso tenha significado...

História é um assunto nebuloso, por todas as merdas que acabam incluídas mais tarde. Mas, mesmo sem podermos ter nenhuma certeza sobre a "história", parece bastante sensato imaginar que, vez ou outra, a energia de uma geração inteira atinge o seu ápice num instante magnífico e duradouro, por motivos que na época ninguém compreende por inteiro – e que, em retrospecto, nunca explicam o que realmente aconteceu.


(...) 

Havia loucura rolando por todos os lados, a qualquer hora. Se não estivesse rolando do outro lado da baía, estava rolando depois da Golden Gate ou descendo a 101 até Los Altos ou La Honda... Era possível ficar louco em qualquer lugar. Todos compartilhavam uma sensação fantástica de que estávamos fazendo algo correto, mesmo sem saber o que era... sentíamos que estávamos vencendo...
 

E acho que essa foi a armadilha – essa sensação de vitória inevitável sobre as forças do Antigo e do Maligno. Não num sentido cruel ou militar; não precisávamos disso. Nossa energia simplesmente prevaleceria. Lutar não fazia sentido – tanto no nosso lado como no deles.  Aquela era nossa hora; estávamos na crista de uma onda imensa e linda...
 

E agora, menos de cinco anos mais tarde, basta subir um morro íngreme em Las Vegas e olhar para o Oeste com a predisposição adequada para quase enxergar a marca da maré – o lugar onde aquela onda enfim quebrou e se retraiu.



Odeio aquelas revistarias de aeroporto e de shopping center: elas têm muitas revistas, jornais, livros de auto-ajuda & religião & negócios, os best-sellers, além de outras publicações desinteressantes. Mas na minha segunda ida ao aeroporto na sexta-feira última, entrei na revistaria do aeroporto e em menos de dez segundos bati o olho num livro da L&PM pocket de capa toda em vermelho e amarelo. Já tinha visto o filme, que foi feito em 1998, dirigido pelo ex-Monty Python Terry Gilliam e estrelando Johnny Depp e Benicio del Toro. Na contracapa do livro, vejo que a tradução era do Daniel Pellizzari. Comprei na hora: um texto que atrai tanta gente boa, não poderia ser ruim. E de fato, não é: 'Medo e Delírio em Las Vegas', do jornalista Hunter S. Thompson, é ótimo. Ainda não terminei. Gostei desse trecho acima, e quando fui procurar sobre o livro descobri (por coincidência) que esse é trecho é conhecido como the wave speech [o discurso da onda]: a parte preferida do autor e a mais citada do livro. (Trilha sonora para esse texto.)

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