sábado, 10 de julho de 2010

Humanidade no cenário evolutivo

Típica forma de vida terrestre.


O biólogo Richard Dawkins começa o seu primeiro livro, 'O Gene Egoísta', com a seguinte provocação:

A vida inteligente em um planeta torna-se amadurecida quando pela primeira vez compreende a razão da sua própria existência. Se criaturas superiores provindas do espaço algum dia visitarem a Terra, a primeira pergunta que farão, a fim de avaliar o nível de nossa civilização será: "Eles já descobriram a evolução?"

Eu poderia dizer que para a tristeza e decepção de muitos, Deus não nos criou: somos o resultado da evolução por seleção natural, um processo muito simples e elegante sob certos aspectos, mas extremamente cruel na sua essência. Seleção natural é competição, e todas as belas formas de vida que observamos zureteando por aí são o produto de milhares de anos de morte, fome, luta, doenças e - alguma coisa boa tinha que ter - sexo. De modo totalmente inconsciente e involuntário, ao nascer automaticamente nos engajamos em uma disputa que já dura bilhões de anos pela propagação de nossos genes num ambiente de recursos limitados. Não que isso faça muita diferença para nós como indivíduos: somos um pequeno peão no xadrez evolutivo para o qual a morte é certa, e nossa única aspiração real à imortalidade reside no nosso DNA.

E se não temos importância alguma no esquema cósmico enquanto indíviduos, também não a temos enquanto espécie. Considerando a natureza gradual da evolução, não faz muito sentido falar algo do tipo 'o surgimento da espécie humana'. Contudo, para fins de argumentação nos permitimos considerar algum momento pontual - no qual reconhecemos fósseis com características bem próximas às nossas - como o momento do surgimento da espécie humana. Estima-se que isso tenha ocorrido há meio milhão de anos atrás. Acredita-se que o Universo tenha cerca de 13 bilhões de anos de idade, que a Terra tenha se formado há 4,5 bilhões de anos, e os registros de vida mais antigos datam de 3,5 bilhões de anos atrás. Ou seja, em qualquer uma das escalas que se observe - a do Universo, da Terra ou da vida - a humanidade segue sendo uma pequena nota de rodapé, uma espécie extremamente recente. E também não irá demorar muito para saírmos de cena: daqui um milhão de anos certamente não haverá mais sobreviventes da linhagem humana.

Isso que nem entramos na questão de que desde a origem da vida até hoje a forma predominante de vida terrestre tem sido as bactérias. Todos esses animais, plantas e fungos que dominam nossa visão de mundo são "pequenas" extravagâncias multicelulares que a vida se permitiu. Lição de humildade n° 3.

Nenhum comentário: