terça-feira, 5 de outubro de 2010

Bertrand Russell



Existem assuntos sobre os quais há concordância entre os pesquisadores; as datas dos eclipses podem servir de ilustração. Existem outros assuntos sobre os quais os especialistas discordam. Mesmo quando todos os especialistas concordam, também podem estar enganados. Há vinte anos, a visão de Einstein da magnitude da deflexão da luz pela gravitação teria sido rejeitada por todos os especialistas, e ainda assim provou estar certa. Mas a opinião dos especialistas, quando unânime, deve ser aceita pelos leigos como tendo maior probabilidade de estar certa do que a opinião contrária. O ceticismo  que advogo corresponde apenas a: (1) quando os especialistas estão de acordo, a opinião contrária não pode ser tida como certa; (2) quando não estão de acordo, nenhuma opinião pode ser considerada correta por um não-especialista; e (3) quando todos afirmam que não existem bases suficientes para a existência de uma opinião positiva, o homem comum faria melhor se suspendesse seu julgamento.
Essas proposições podem parecer moderadas; no entanto, se aceitas, revolucionariam de modo absoluto a vida humana.
As opiniões pelas quais as pessoas estão dispostas a lutar e seguir pertencem todas a uma das três classes que o ceticismo condena. Quando existem fundamentos racionais para uma opinião, as pessoas contentam-se em apresentá-los e esperar que atuem. Nesses casos, as pessoas não sustentam suas opiniões de forma apaixonada; o fazem com calma, e expõem suas razões com tranqüilidade. As opiniões mantidas de forma passional são sempre aquelas para as quais não existem bons fundamentos; na verdade, a paixão é a medida da falta de convicção racional de seu defensor. Opiniões sobre política e religião são quase sempre defendidas de forma apaixonada.

Sempre acho engraçado que a maioria esmagadora das pessoas têm opiniões políticas e religiosas semelhantes às dos seus pais. Tenho a forte impressão que normalmente se parte de uma decisão tomada - talvez 'herdada' seja um termo mais preciso nesse caso: por exemplo, "sou cristão", ou "sou anti-petista" - e depois se busca racionalizar essa decisão atentando somente para os argumentos favoráveis àquela decisão.

Votei nulo nessa eleição. Dei vazão ao meu sentimento de que somos todos sub-informados para decidir qual é o melhor candidato; em oposição à ideia de que devemos pelo menos tentar escolher aquele que é o menos pior dentre os disponíveis.

Um comentário:

Luiz Augusto disse...

Muito boa a citação, mas esse equilíbrio entre emoção e razão é algo bem mais complexo e específico para cada pessoa. Estou totalmente de acordo com os últimos dois parágrafos, que você mesmo escreveu. Penso da mesma maneira, mas em relação à questão do voto: considere que você é uma pessoa muito bem informada e com inteligência acima da média, que tem uma capacidade de autocrítica suficiente para chegar à conclusão de que é ignorante, como a maioria, sobre certo assunto (o que é um paradoxo, afinal, se você sabe que é ignorante, quer dizer que não é ignorante), agora considere que dita maioria, verdadeiramente ignorante, tem o mesmo peso que você no processo eleitoral. É algo a ser considerado ao tomar sua decisão de voto.

O post "O ceticismo e o conhecimento de cada um" é perfeito! Ele diferencia bem ceticismo de onisciência. Há um abismo de diferença entre um cético prepotente e um cético que reconhece as próprias limitações, porque somente o segundo tem chances de se aprimorar. Achei estranho que ele apareceu no meu Google Reader mas não está aparecendo na própria página do blog, por isso estou comentando sobre ele nesse outro post.