quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Das injustiças


O mundo parece muito injusto: alguns de nós morrem de fome antes de completar a primeira infância, enquanto outros - pelo acaso do nascimento - passam a vida na opulência e no esplendor. Podemos nascer numa família violenta ou num grupo étnico hostilizado, ou podemos começar a vida com alguma deformidade física. Vivemos com o baralho viciado contra nós e depois morremos: é só isso? Nada a não ser um sono sem sonhos e sem fim? Onde é que está a justiça nisso tudo? É desolador, brutal, impiedoso. Não deveríamos ter uma segunda chance numa arena nivelada? Como seria melhor se nascêssemos de novo em circunstâncias que levassem em conta o nosso desempenho na última vida, por mais viciado que o baralho tivesse estado contra nós. Ou, se houvesse um julgamento depois da morte, então - desde que representássemos bem as personalidades que nos foram dadas nesta vida, e fôssemos humildes, fiéis e tudo o mais - deveríamos ser recompensados vivendo alegremente até o fim dos tempos num refúgio permanente, longe da agonia e do turbilhão do mundo. Assim seria, se o mundo fosse idealizado, pré-planejado, justo. Assim seria se os que sofrem com a dor e o tormento recebessem o consolo que merecem.
- Carl Sagan

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