quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Rumo ao vale... outro vale

A evolução adaptativa pode ser vista de maneira simplificada e metafórica como a competição de diferentes alelos presentes em uma população para fixarem-se em seus loci (um determinado "local" do genoma). Em outras palavras, os diferentes alelos existentes - cujas diferenças influenciam a capacidade do seu organismo "hospedeiro" em sobreviver e reproduzir no ambiente no qual se encontra - têm suas freqüências aumentadas ou diminuídas pela seleção natural, conforme essa influência seja positiva ou negativa.

Tomemos o exemplo hipotético mais simples: um alelo A codificando para a enzima E está fixado em uma população, apresentando assim uma freqüência de 100%. Por mutação, surge em um indivíduo o alelo B, que codifica para uma enzima E' com apenas um aminoácido de diferença mas que torna essa enzima um pouco mais eficiente em sua atividade quando comparada com a enzima E (codificada pelo alelo A). O esperado é que o alelo B tenha sua freqüência aumentada ao longo das gerações em detrimento do alelo A, que terá sua freqüencia diminuída, até que o alelo B seja finalmente fixado na população.

A "capacidade do organismo em sobreviver e reproduzir no ambiente no qual se encontra" usualmente é definido como 'aptidão' (ou fitness, em inglês). Logo, seria possível - em princípio - determinar a aptidão para cada genótipo em uma determinada população em determinado ambiente. (Genótipo, no caso de uma espécie diplóide como a nossa, é a combinação de alelos presentes nos dois loci de um indíviduo: como AA, AB ou BB.)

Um modelo visual foi proposto pelo biólogo Sewall Wright na década de 1930 para representar essas diferenças de aptidão entre os genótipos: a paisagem adaptativa ou fitness landscape. Cada ponto no "chão" do gráfico representa um genótipo, e a altura naquele ponto representa a aptidão daquele genótipo.


Com base nesse modelo visual, argumentou-se que a seleção natural conduz as populações "ladeira acima" em direção ao cume, ou seja, em direção aos genótipos de maior aptidão. Da mesma maneira, foi proposto que uma população que estivesse na ladeira cuja inclinação levasse a um cume mais baixo ("local optimum" da figura) não seria capaz de atingir o cume mais alto ("global optimum" da figura), pois a seleção natural não têm "presciência" nem "capacidade" de conduzir a evolução "ladeira abaixo". Portanto, aquela população estaria presa àquele cume menor, incapaz de atravessar o vale em direção ao cume maior.

Mas isso é a seleção natural, com todas suas limitações de um processo sem antevisão. Nós - seres humanos com telencéfalo desenvolvido - podemos descer propositalmente em direção ao vale buscando o cume maior. Mas dessa vez não em direção a um cume de maior aptidão (quem em sua sã consciência fica se preocupando com a eficiente propagação de seus alelos?), mas sim em direção a maior satisfação profissional, maior retorno financeiro, maior felicidade pessoal.

Estou divisando o cume mais alto do lado de lá e começo a minha travessia pelo vale. Wish me luck.

2 comentários:

Afuberti disse...

Good luck, buddy.

Pree disse...

Tu não precisa de sorte!
Tu já tem o mundo!!!!

LUV YA!