sábado, 27 de fevereiro de 2010

Clipe do Dia nº 16



Em algum lugar além das fronteiras de nosso sistema solar, arrojando-se pelo espaço interestelar, há um fonógrafo e um disco dourado com instruções hieroglíficas na capa. Foram colocados na sonda espacial Voyager 2, lançada em 1977 para nos transmitir fotografias e dados dos planetas distantes de nosso sistema solar. Agora que passou por Netuno e sua emocionante missão científica está encerrada, ela serve como um cartão de visita interplanetário que deixamos para algum viajante espacial extraterrestre que possa vir a pescá-la.
O astrônomo Carl Sagan foi o produtor do disco; ele escolheu imagens e sons que sintetizam nossa espécie e nossas realizações. Sagan incluiu saudações em 55 línguas humanas e uma "língua de baleia", um ensaio sonoro de doze minutos composto do choro de um bebê, de um beijo e de um registro de encefalograma das meditações de uma mulher apaixonada, além de noventa minutos de música, com exemplos de diferentes culturas do mundo: mariachi mexicana, flautas-de-pã peruanas, raga indiana, um cântico noturno navajo, uma canção de iniciação para meninas pigméias, uma música sakuhachi japonesa, Bach, Beethoven, Mozart, Stravinsky, Louis Armstrong e Chuck Berry cantando "Johnny B. Goode".
O disco também envia uma mensagem de paz de nossa espécie para o cosmo. Em um involuntário ato de humor negro, a mensagem foi proferida pelo secretário-geral das Nações Unidas da época, Kurt Waldheim. Anos depois, historiadores descobriram que Waldheim passara a Segunda Guerra Mundial como oficial do serviço secreto em uma unidade do exército alemão que perpetrou represálias brutais contra guerrilheiros da resistência nos Bálcãs e deportou a população judaica de Salonica para campos de extermínio. É tarde demais para chamar a Voyager de volta, e essa piada sarcástica sobre nós circulará para sempre pelo centro da Via Láctea.
A gravação fonográfica da Voyager foi uma boa idéia, de qualquer modo, nem que seja apenas pelas questões que ela suscitou. Estamos sozinhos? Se não estamos, as formas de vida alienígena têm a Inteligência e o desejo de viajar pelo espaço?  Em caso afirmativo, elas interpretariam os sons e imagens da maneira por nós pretendida ou ouviriam a voz como o lamento de um modem e veriam os desenhos lineares de pessoas na capa como a representação de uma raça de armações de arame? Se entendessem, como responderiam? Não fazendo caso de nós? Vindo até aqui para nos escravizar ou comer? Ou entabulando um diálogo interplanetário? Num esquete do programa Saturday Night Live, a tão esperada resposta do espaço distante foi "Mandem mais Chuck Berry".

Trecho do livro "Como a Mente Funciona", do Steven Pinker.

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