- Jorge Luis Borges
Esse livro de 1991 é provavelmente um dos melhores livros que eu já li até hoje, e certamente é o melhor que eu já li do Saramago: até agora o único Nobel de Literatura em língua portuguesa (um dia eles vão descobrir o Rubem Fonseca). O livro reconta de outra maneira a história de Jesus Cristo (bem, na realidade, a primeira metade do livro é a história de José, o pai de Jesus). Mesmo mantendo elementos sobrenaturais - como a participação de Deus e do Diabo na história - a vida de José e Jesus é contada de modo mais 'realista', incluindo aí uma boa reconstrução dos costumes judaicos da época. O livro é longo, mas eu devorei ele em 2 ou 3 dias numa chuvosa Guarda do Embaú (graças a uma revistaria deus ex machina da Pinheira). Dentre as muitas partes boas, a 'cena do barco' quando Jesus descobre seu propósito nesse mundo é antológica. E a última frase do livro resume bem o tipo de distorção que o Saramago aplicou sobre a história original.
Como foi o primeiro livro que eu li do Saramago, foi nesse livro que eu tive que me acostumar com o estilo de escrita dele: frases longas, diálogos separados por vírgula e contínuos na mesma linha, e a grafia portuguesa (ele não permite a conversão para o português brasileiro). Eu me acostumei fácil, e acho que o estilo de escrever do Saramago é uma atração à parte. Além de que segue sendo o único Nobel que temos o privilégio de ler na nossa língua-mãe, sem o intermédio de traduções (traduttore, traditore).
Recomendo fortemente tanto para crentes quanto para descrentes.
O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo.
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